Agnatos

 

O que são os agnatos?

Os agnatos constituem um grupo de vertebrados aquáticos caracterizados pela ausência de mandíbulas. Representam uma linhagem muito antiga dentro dos cordados e abrangem organismos atuais, como as lampreias e os peixes-bruxa, que preservam características anatômicas consideradas basais quando comparadas a outros peixes. São organismos essencialmente marinhos ou dulcícolas e exercem papéis ecológicos fundamentais, seja como filtradores, parasitas ou detritívoros.



Características físicas:


Corpo alongado: apresenta forma cilíndrica e delgada, lembrando uma enguia, o que favorece a locomoção em ambientes com fendas, sedimentos ou estruturas rochosas.


Falta de mandíbulas: a boca é circular e adaptada para sucção, raspagem ou alimentação detritívora, diferindo de todos os demais vertebrados que possuem mandíbulas articuladas.


Esqueleto cartilaginoso: o endoesqueleto é formado predominantemente por cartilagem, conferindo leveza ao corpo e permitindo movimentos flexíveis.


Ausência de nadadeiras pares: não possuem nadadeiras peitorais ou pélvicas, apresentando apenas uma nadadeira dorsal e, por vezes, caudal, o que reduz a capacidade de manobra.


Presença de notocorda persistente: o eixo corporal é sustentado por uma notocorda que permanece ao longo da vida, característica primitiva compartilhada com outros cordados basais.


Pele sem escamas: a superfície do corpo é lisa e pode conter grande quantidade de glândulas mucosas, especialmente nos peixes-bruxa, que secretam muco viscoso como mecanismo de defesa.



Alimentação


Os agnatos apresentam hábitos alimentares variados de acordo com o grupo. As lampreias possuem uma boca em forma de ventosa equipada com estruturas córneas que permitem fixação e raspagem sobre outros peixes, retirando sangue e tecidos corporais. Já os peixes-bruxa são essencialmente detritívoros e necrófagos, penetrando em carcaças de organismos mortos para consumir tecidos internos. Alguns agnatos filtram partículas orgânicas presentes na água, comportamento que remete aos padrões alimentares dos ancestrais desse grupo.



Reprodução


A reprodução dos agnatos ocorre predominantemente em água doce, mesmo para espécies que passam parte da vida no ambiente marinho. As lampreias realizam migrações reprodutivas até rios, onde constroem ninhos e depositam seus ovos em substratos arenosos. A fecundação é externa e os ovos originam larvas conhecidas como ammocetes, que permanecem enterradas filtrando partículas orgânicas por longos períodos até sofrer metamorfose. Os peixes-bruxa, por outro lado, apresentam estratégias reprodutivas distintas, produzindo ovos maiores e envoltos por cápsulas protetoras, depositados no fundo marinho. Nessa linhagem não há metamorfose semelhante à das lampreias e o desenvolvimento tende a ser mais direto.



Habitat e distribuição geográfica


Os agnatos ocupam principalmente ambientes marinhos frios ou temperados, embora várias espécies de lampreias passem parte do ciclo de vida em rios. Encontram-se distribuídos no Atlântico Norte, Pacífico Norte e em sistemas fluviais da Europa, América do Norte e partes da Ásia. Os peixes-bruxa vivem exclusivamente no mar, ocupando regiões profundas e com sedimentos macios. As lampreias apresentam maior diversidade de habitats, existindo espécies anádromas, sedentárias de água doce e marinhas.



Exemplos de espécies:


Lampreia-marinha (Petromyzon marinus): espécie anádroma encontrada no Atlântico Norte. Os adultos migram para rios para se reproduzir, onde constroem ninhos e realizam a desova. É conhecida pela fase parasitária, na qual se fixa a peixes maiores para retirar fluidos corporais. Essa espécie desempenha papel ecológico significativo em rios e mares, influenciando populações de peixes hospedeiros.


Lampreia-do-pacífico (Entosphenus tridentatus): nativa do Pacífico Norte, apresenta importância ecológica para ecossistemas fluviais devido ao aporte de nutrientes promovido pelos adultos após a reprodução. Possui ciclo de vida semelhante ao da lampreia-marinha, com longa fase larval e migração para o oceano antes de retornar aos rios.


Peixe-bruxa-do-atlântico (Myxine glutinosa): espécie marinha distribuída no Atlântico Norte, reconhecida pela capacidade de produzir grandes quantidades de muco viscoso quando ameaçada. Alimenta-se de organismos mortos ou debilitados, penetrando neles por aberturas naturais ou pela pele amolecida.


Peixe-bruxa-do-pacífico (Eptatretus stoutii): encontrado na costa do Pacífico americano, ocupa preferencialmente regiões profundas. Exercem função ecológica relevante ao remover matéria orgânica em decomposição do ambiente, contribuindo para o equilíbrio do ecossistema bentônico.



Curiosidades:


• As larvas de lampreia, chamadas ammocetes, apresentam características que lembram cordados basais, o que auxilia em estudos sobre a evolução dos vertebrados.


• Os peixes-bruxa são capazes de produzir muco em quantidade suficiente para entupir as brânquias de predadores, funcionando como defesa altamente eficiente.

 

 

Foto de uma lampreia-marinha

Lampreia-marinha: exemplo de agnato

 

 

 

Glossário do texto:

 

- Vertebrados: animais que possuem coluna vertebral, formada por estruturas que protegem o sistema nervoso central.


- Cordados: grupo de animais que apresentam notocorda, tubo nervoso dorsal e fendas na região da faringe em alguma fase da vida.


- Endoesqueleto: estrutura interna que sustenta o corpo dos animais, formada por cartilagem ou ossos.


- Cartilagem: tecido resistente e flexível que compõe partes do corpo, como o esqueleto de alguns peixes.


- Larvas: estágios iniciais do desenvolvimento de alguns animais, nos quais ainda não possuem a forma de adulto.


- Fecundação: encontro entre células reprodutivas que origina um novo organismo.


- Desenvolvimento: conjunto de processos que transformam o organismo jovem em adulto.


- Migração: deslocamento de animais de um ambiente para outro, geralmente relacionado à reprodução ou alimentação.


- Ciclo de vida: sequência de etapas que um organismo percorre desde o nascimento até a reprodução.


- Anádromos: animais que vivem no mar, mas entram em rios para se reproduzir.


- Parasitas: organismos que obtêm alimento vivendo sobre ou dentro de outro organismo, causando-lhe prejuízos.


- Detritívoros: organismos que se alimentam de restos de matéria orgânica presente no ambiente.


- Necrófagos: animais que consomem carcaças ou matéria orgânica em decomposição.


- Ecossistema: conjunto de seres vivos e do ambiente físico que interagem entre si.


- Bêntico: relacionado ao fundo dos ambientes aquáticos, onde vivem muitos organismos que dependem do sedimento.

 

 


 

Por Tânia Cabral - Professora de Biologia e Ciências do Ensino Fundamental e Médio - graduada na Unesp, 2001.


Publicado em 12/12/2025