Semente
Conceito botânico: o que é semente?
Na botânica, a semente é compreendida como a estrutura resultante do desenvolvimento do óvulo fecundado nas plantas com sementes, desempenhando papel central na reprodução e na perpetuação das espécies vegetais. Trata-se de uma unidade biológica complexa, formada por tecidos de diferentes origens, cuja função principal é proteger o embrião vegetal e garantir condições adequadas para sua germinação em ambientes favoráveis. A semente representa um importante avanço evolutivo em relação a formas vegetais mais primitivas, pois permite maior independência em relação à água no processo reprodutivo e amplia as possibilidades de dispersão das plantas no ambiente.
Do ponto de vista funcional, a semente atua como um sistema de proteção, nutrição e propagação. Ela contém um embrião em estado de desenvolvimento interrompido, que retoma seu crescimento quando encontra condições adequadas de umidade, temperatura e oxigênio. Essa capacidade de permanecer viável por longos períodos confere às sementes grande importância ecológica e evolutiva, permitindo que as plantas atravessem fases ambientais desfavoráveis.
Origem das sementes nas plantas com sementes
As sementes surgem nas plantas classificadas como espermatófitas, grupo que engloba gimnospermas e angiospermas. Evolutivamente, o aparecimento das sementes está associado à adaptação das plantas ao ambiente terrestre, especialmente à redução da dependência direta da água para a reprodução. Nas plantas sem sementes, como briófitas e pteridófitas, a fecundação ainda depende da presença de água para o deslocamento dos gametas masculinos. Já nas plantas com sementes, o grão de pólen desempenha essa função, permitindo a fecundação em ambientes mais secos.
Nas gimnospermas, as sementes se formam a partir de óvulos expostos, não envolvidos por frutos. Nas angiospermas, ocorre uma inovação adicional, pois os óvulos encontram-se protegidos no interior do ovário, que após a fecundação se desenvolve formando o fruto. Essa característica amplia ainda mais as estratégias de proteção e dispersão das sementes, contribuindo para o grande sucesso adaptativo das angiospermas nos mais diversos ambientes.
Estrutura geral das sementes
A estrutura básica das sementes é composta por três elementos principais: o embrião, os tecidos de reserva e o tegumento. O embrião corresponde à planta jovem em estágio inicial de desenvolvimento, apresentando estruturas embrionárias que darão origem à raiz, ao caule e às folhas. Ele é formado durante a fecundação e permanece em estado de latência até que ocorra a germinação.
Os tecidos de reserva são responsáveis pelo armazenamento de substâncias nutritivas que sustentam o crescimento inicial do embrião. Essas reservas podem ser constituídas principalmente por carboidratos, lipídios e proteínas, variando conforme o grupo vegetal e a espécie. O tegumento, por sua vez, é a camada protetora externa da semente, originada dos envoltórios do óvulo. Ele exerce função fundamental na proteção mecânica, na regulação da entrada de água e gases e na defesa contra agentes patogênicos.
Tipos de sementes quanto à presença de reservas nutritivas
As sementes podem ser classificadas de acordo com a forma e a localização das reservas nutritivas. Em muitas espécies, essas reservas encontram-se no endosperma, tecido formado durante o processo de fecundação. As sementes que mantêm o endosperma na maturidade são denominadas endospérmicas ou albuminosas. Nessas sementes, o embrião é relativamente pequeno e depende das reservas armazenadas nesse tecido para iniciar seu desenvolvimento.
Em outras espécies, o endosperma é consumido durante o desenvolvimento embrionário, e as reservas passam a ser acumuladas nos cotilédones, que fazem parte do embrião. Essas sementes são denominadas exendospérmicas ou não albuminosas. A presença ou ausência de endosperma influencia diretamente o padrão de germinação e o desenvolvimento inicial da plântula.
Classificação das sementes segundo o número de cotilédones
Outra forma importante de classificação das sementes baseia-se no número de cotilédones presentes no embrião. As sementes das angiospermas podem ser divididas em monocotiledôneas e dicotiledôneas. As monocotiledôneas apresentam um único cotilédone, enquanto as dicotiledôneas possuem dois cotilédones.
Essa diferença está associada a uma série de características anatômicas e fisiológicas das plantas adultas, como o tipo de sistema radicular, a organização dos feixes vasculares e o padrão de crescimento do caule. Os cotilédones exercem papel essencial durante a germinação, podendo atuar tanto na absorção das reservas quanto, em alguns casos, na realização temporária da fotossíntese.
Processo de formação das sementes
A formação das sementes é resultado de um conjunto de processos reprodutivos que se iniciam com a polinização e culminam na fecundação. Após a chegada do grão de pólen ao órgão reprodutor feminino, ocorre o crescimento do tubo polínico, que conduz os gametas masculinos até o óvulo. A fecundação dá origem ao embrião e, nas angiospermas, também ao endosperma, caracterizando o fenômeno da dupla fecundação.
Com o desenvolvimento do embrião, o óvulo transforma-se em semente, enquanto o ovário, quando presente, desenvolve-se em fruto. Durante esse processo, ocorre a diferenciação dos tecidos, o acúmulo de reservas e a formação do tegumento. Ao final, a semente entra em estado de maturação, reduzindo sua atividade metabólica e preparando-se para a dispersão.
Dormência e viabilidade das sementes
A dormência é um fenômeno fisiológico que impede a germinação imediata da semente, mesmo quando as condições ambientais parecem favoráveis. Esse mecanismo é fundamental para a sobrevivência das espécies vegetais, pois evita que a germinação ocorra em momentos inadequados, como períodos de estiagem ou frio intenso. A dormência pode estar relacionada a fatores internos, como a impermeabilidade do tegumento ou a presença de substâncias inibidoras, ou a fatores externos, como exigências específicas de temperatura e luz.
A viabilidade refere-se à capacidade da semente de germinar e originar uma plântula saudável. Essa capacidade varia conforme a espécie, as condições de armazenamento e o tempo de permanência da semente em repouso. A manutenção da viabilidade é essencial tanto para a regeneração natural dos ecossistemas quanto para práticas agrícolas e de conservação vegetal.
Germinação das sementes
A germinação corresponde ao processo pelo qual o embrião retoma seu crescimento e dá origem a uma nova planta. Esse processo inicia-se com a absorção de água pela semente, fenômeno conhecido como embebição, que ativa o metabolismo e desencadeia a mobilização das reservas nutritivas. Em seguida, ocorre a protrusão da radícula, que marca o início visível da germinação.
A germinação pode apresentar diferentes padrões, sendo classificada, por exemplo, em epígea ou hipógea, conforme a posição dos cotilédones durante o desenvolvimento inicial da plântula. Fatores ambientais como água, oxigênio, temperatura e, em alguns casos, luz, exercem influência direta sobre o sucesso do processo germinativo.
Importância ecológica das sementes
Do ponto de vista ecológico, as sementes desempenham papel fundamental na dinâmica dos ecossistemas. Elas permitem a dispersão das espécies vegetais, a colonização de novos ambientes e a manutenção da diversidade biológica. Diferentes estratégias de dispersão, como o transporte pelo vento, pela água ou por animais, ampliam o alcance das sementes e reduzem a competição entre plantas da mesma espécie.
Além disso, o banco de sementes presente no solo atua como uma reserva genética que garante a regeneração da vegetação após distúrbios ambientais. Esse mecanismo é essencial para a resiliência dos ecossistemas naturais, especialmente em áreas sujeitas a incêndios, secas ou intervenções humanas.
Importância econômica e agrícola das sementes
Na agricultura, as sementes constituem a base da produção de alimentos e matérias-primas vegetais. A seleção, o melhoramento e a conservação de sementes de qualidade são fatores determinantes para a produtividade agrícola e a segurança alimentar. O controle da viabilidade, da sanidade e do potencial germinativo das sementes é fundamental para garantir colheitas eficientes e sustentáveis.
Além do uso agrícola, as sementes possuem importância econômica em diversos setores, como a indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética. Muitas sementes são fontes de óleos, proteínas e compostos bioativos, amplamente utilizados em processos industriais e no desenvolvimento de produtos.
Dispersão das sementes na natureza
A dispersão das sementes é um processo essencial para a sobrevivência e a expansão das espécies vegetais. Ela pode ocorrer por mecanismos abióticos, como o vento e a água, ou por mecanismos bióticos, envolvendo a ação de animais. Cada estratégia de dispersão está associada a adaptações morfológicas específicas, como estruturas aladas, flutuantes ou atrativas ao consumo animal.
Ao se afastarem da planta-mãe, as sementes reduzem a competição por recursos e aumentam as chances de estabelecimento em ambientes favoráveis. Esse processo contribui para a organização espacial da vegetação e para a manutenção dos ciclos ecológicos, evidenciando a relevância das sementes como elementos centrais da botânica e da vida vegetal.
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| Infográfico mostrando as quatro fases de desenvolvimento da semente. |
Por Tânia Cabral - Professora de Biologia e Ciências do Ensino Fundamental e Médio - graduada na Unesp, 2001.
Publicado em 25/12/2025

