Maré Vermelha

 

Introdução


O fenômeno da maré vermelha é um evento natural que ocorre nos ambientes aquáticos, especialmente nos mares e zonas costeiras. Esse processo envolve o crescimento anormal de certas microalgas que, ao se multiplicarem em grande quantidade, colorem a água e produzem efeitos ecológicos significativos. Apesar de ocorrer naturalmente, sua frequência e intensidade podem ser agravadas por fatores antrópicos, como a poluição e o excesso de nutrientes nos oceanos.



O que é a maré vermelha?


A maré vermelha é um tipo de floração algal nociva (do inglês, -Harmful Algal Bloom- – HAB), caracterizada pela proliferação excessiva de microalgas, como dinoflagelados e diatomáceas. Essas microalgas possuem pigmentos que conferem coloração à água, sendo o vermelho uma das tonalidades mais comuns, embora também possam ocorrer marés de coloração marrom, amarela ou esverdeada. O termo "maré vermelha" refere-se, portanto, ao aspecto visual e não necessariamente à presença de toxinas.

Em muitas situações, as algas envolvidas na maré vermelha produzem substâncias químicas que afetam diretamente os organismos marinhos. Contudo, há casos em que o fenômeno não está associado à toxicidade, mas ainda assim provoca desequilíbrios ecológicos devido ao consumo intenso de oxigênio dissolvido na água.



Organismos responsáveis pela maré vermelha


As principais algas associadas à maré vermelha pertencem ao grupo dos dinoflagelados, que são organismos unicelulares dotados de flagelos. Espécies como -Karenia brevis-, -Alexandrium fundyense- e -Gymnodinium- são frequentemente envolvidas em episódios de maré vermelha. Algumas diatomáceas também podem desencadear esse fenômeno, como espécies do gênero -Pseudo-nitzschia-.

Esses organismos fazem parte naturalmente do fitoplâncton marinho e desempenham papel importante nos ecossistemas aquáticos. No entanto, sob determinadas condições, seu crescimento pode sair do controle e provocar alterações significativas no ambiente.



Causas da maré vermelha


Diversos fatores contribuem para a ocorrência da maré vermelha, e muitos deles estão relacionados às atividades humanas. As principais causas são:

- Enriquecimento de nutrientes: o lançamento de esgoto doméstico, fertilizantes agrícolas e resíduos industriais nos corpos d’água aumenta a concentração de nutrientes como nitrogênio e fósforo, favorecendo a multiplicação das algas.

- Estabilidade da coluna d’água: águas mais calmas e estáveis promovem condições ideais para a permanência das microalgas na superfície, onde há maior disponibilidade de luz.

- Temperaturas elevadas: o aumento da temperatura da água, comum em regiões tropicais ou durante o verão, estimula o crescimento das algas.

- Redução do fluxo de água: represas, canais e mudanças na dinâmica costeira podem diminuir a circulação da água, contribuindo para o acúmulo de nutrientes e a concentração de algas.



Efeitos ecológicos da maré vermelha


A maré vermelha tem efeitos diversos sobre os ecossistemas aquáticos, que variam de acordo com a intensidade do evento e a espécie de alga envolvida. Entre os principais impactos, destacam-se:

- Diminuição do oxigênio dissolvido: a decomposição das algas após o fim da floração consome grandes quantidades de oxigênio, resultando em áreas hipóxicas (com pouco oxigênio) ou anóxicas (sem oxigênio), o que pode provocar a morte de peixes e outros animais aquáticos.

- Alterações nas cadeias alimentares: a alta concentração de microalgas pode afetar o equilíbrio entre as populações de organismos planctônicos, prejudicando espécies filtradoras e reduzindo a disponibilidade de alimento para outros níveis tróficos.

- Acúmulo de toxinas: algumas algas produzem toxinas que se acumulam nos tecidos de moluscos, peixes e crustáceos, prejudicando esses organismos e afetando também predadores naturais.

- Perda de biodiversidade: em eventos severos, a maré vermelha pode causar mortandade em massa de organismos marinhos e alterar a composição de espécies na região afetada.



Relação com atividades humanas


A intensificação da maré vermelha em várias regiões costeiras do mundo está diretamente associada à ação humana. A eutrofização provocada pelo lançamento de resíduos orgânicos e químicos nos mares favorece as condições ideais para a floração de algas. Além disso, o aquecimento global e a elevação das temperaturas médias dos oceanos também contribuem para o aumento da frequência desses eventos.

A urbanização costeira, o desmatamento de áreas de mangue e a construção de empreendimentos próximos aos estuários são outros fatores que desequilibram o ambiente e ampliam os impactos das marés vermelhas. Essas ações interferem na renovação da água e na capacidade dos ecossistemas de filtrarem nutrientes e poluentes.



Importância do monitoramento e controle


Diante dos impactos ambientais e econômicos associados à maré vermelha, o monitoramento desse fenômeno é essencial. Diversos institutos de pesquisa e agências ambientais realizam o acompanhamento periódico da qualidade da água, identificando a presença de espécies potencialmente nocivas e alertando as comunidades locais.

O controle da maré vermelha passa principalmente pela prevenção: a redução do lançamento de poluentes e nutrientes nos corpos d’água é uma medida fundamental. O manejo adequado de esgotos, a implantação de sistemas de tratamento de resíduos e o uso responsável de fertilizantes na agricultura são estratégias eficazes para mitigar a ocorrência desse fenômeno.



Curiosidade ecológica:


Uma das últimas marés vermelhas expressivas aconteceu em Santos (SP) em 2016 [Leia o artigo na integra]. A população da alga Dinophysis acuminata estava imensa. O comércio de ostras e mexilhões foi proibido, pois eles poderiam estar contaminados com toxina.

 


 

Artigo revisado por Tânia Cabral - Professora de Biologia e Ciências - graduada na Unesp, 2001.

Atualizado em 12/08/2025