Lamarckismo

 

O que é o Lamarckismo?


O Lamarckismo é uma teoria evolucionista formulada pelo naturalista francês Jean-Baptiste de Lamarck no início do século XIX. Essa teoria buscava explicar a diversidade de seres vivos e a transformação das espécies ao longo do tempo. Segundo Lamarck, os organismos evoluem em resposta ao uso ou desuso de determinadas estruturas, transmitindo essas alterações aos seus descendentes. Sua proposta representou uma das primeiras tentativas sistematizadas de explicar cientificamente o fenômeno da evolução biológica.



Contexto histórico e origem da teoria


Jean-Baptiste de Lamarck desenvolveu sua teoria durante o século XIX, período marcado por intensas transformações científicas, sociais e filosóficas. A ascensão do pensamento iluminista, a valorização da razão e o avanço das ciências naturais influenciaram profundamente os estudos biológicos da época. Em sua obra "Filosofia Zoológica", publicada em 1809, Lamarck propôs sua explicação para a origem da diversidade biológica, desafiando a visão fixista predominante, segundo a qual as espécies seriam imutáveis desde a criação.



Princípios fundamentais do Lamarckismo


O Lamarckismo se baseia em dois princípios centrais que sustentam sua visão evolucionista:


- Lei do uso e do desuso: segundo esse princípio, as estruturas corporais mais utilizadas pelos organismos se desenvolvem e se fortalecem ao longo do tempo, enquanto aquelas que são pouco ou nunca utilizadas tendem a atrofiar ou desaparecer. Por exemplo, um animal que frequentemente utiliza uma determinada parte do corpo para alcançar alimento desenvolveria mais essa estrutura em comparação a outras.


- Herança dos caracteres adquiridos:
Lamarck acreditava que as modificações corporais adquiridas ao longo da vida de um organismo poderiam ser transmitidas às gerações seguintes. Assim, uma característica adquirida por um indivíduo durante sua vida, como pescoço mais longo ou músculos mais fortes, seria passada para seus descendentes.



Exemplos clássicos do Lamarckismo


Um dos exemplos mais conhecidos da teoria lamarquista é o da girafa. Segundo Lamarck, os ancestrais da girafa viviam em ambientes onde o alimento encontrava-se nas copas das árvores. De tanto esticar o pescoço para alcançar as folhas mais altas, esses animais teriam desenvolvido um pescoço mais comprido. Essa característica, por ser vantajosa, teria sido herdada pelos descendentes, levando ao aparecimento de girafas com pescoços progressivamente mais longos.



Outro exemplo comumente citado é o das aves que, ao viverem em ambientes aquáticos, teriam alongado seus dedos com o tempo, formando membranas entre eles devido ao uso constante para nadar.



Importância científica e contribuições de Lamarck


Apesar de suas proposições terem sido posteriormente refutadas pelas evidências genéticas e pelas descobertas da biologia moderna, a teoria de Lamarck foi fundamental para o avanço do pensamento biológico. Ele foi pioneiro ao defender que os seres vivos não são imutáveis e que há uma transformação contínua nas espécies ao longo do tempo. Sua postura desafiava o fixismo e abria espaço para o desenvolvimento de teorias evolutivas mais complexas, como a de Charles Darwin.


Lamarck também teve grande importância ao propor a ideia de que o ambiente exerce influência direta sobre os organismos, incentivando adaptações. Essa percepção, embora desenvolvida de forma rudimentar, contribuiu para o entendimento da relação entre os seres vivos e o meio em que vivem.



Críticas e superações da teoria lamarquista


Com o avanço da genética no século XX e o estabelecimento da teoria sintética da evolução, os postulados do Lamarckismo foram amplamente questionados. A descoberta dos genes, da mutação genética e dos mecanismos de hereditariedade demonstrou que as características adquiridas durante a vida de um organismo não são transmitidas aos descendentes. Além disso, a seleção natural proposta por Darwin revelou-se mais eficaz na explicação da permanência ou eliminação de certas características em populações.

Entretanto, a teoria de Lamarck voltou a ser discutida em certos aspectos com o surgimento da epigenética, campo que estuda modificações na expressão dos genes que não alteram a sequência do DNA, mas que podem ser influenciadas por fatores ambientais e, em alguns casos, transmitidas às gerações futuras.



Diferenças entre Lamarckismo e Darwinismo


Embora ambos os autores tratem da evolução biológica, existem diferenças marcantes entre as propostas de Lamarck e Darwin. Para Lamarck, a evolução era guiada pelo esforço dos organismos e pelo uso ou desuso de partes do corpo, sendo transmitida por herança dos caracteres adquiridos. Já para Darwin, as variações surgem de forma aleatória entre os indivíduos, e a seleção natural atua favorecendo aqueles mais adaptados ao ambiente, que tendem a deixar mais descendentes.

Enquanto Lamarck dava ênfase ao papel ativo dos organismos em sua transformação, Darwin propôs uma explicação mais passiva, baseada na sobrevivência diferencial em função das condições ambientais.



Legado de Lamarck para a Biologia


Mesmo com os equívocos presentes em sua teoria, Lamarck é reconhecido como um dos grandes nomes da história da biologia. Seu legado reside no fato de ter sido um dos primeiros a propor uma explicação natural para a evolução, sem recorrer a causas sobrenaturais ou imutabilidade das espécies. Ele também contribuiu significativamente para a organização da zoologia, especialmente no estudo dos invertebrados, sendo considerado o fundador desse ramo.


O Lamarckismo, portanto, representa uma etapa importante na construção do pensamento evolucionista, demonstrando a progressiva busca da ciência por compreender os mecanismos de transformação e adaptação da vida.


Figura de girafas se alimentando no topo de uma árvore
Lamarckismo: transmissão hereditária de características físicas adquiridas.

 

 


 

Artigo revisado por Tânia Cabral - Professora de Biologia e Ciências - graduada na Unesp, 2001.

Atualizado em 11/08/2025

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